Para quem me conhece de perto, creio que seja difícil imaginar a cena que eu vou descrever, mas nas últimas semanas eu dei uma "surtada".
Eu digo difícil imaginar, porque, geralmente, eu sou uma pessoa super extrovertida, alegre, carismática e engraçada, daquele tipo que parece que não tem problemas, mas sim, eu também tenho meus momentos de surtos.
Quando digo surto, provavelmente a primeira reação seja uma doença psicótica, que gera uma reação de enlouquecimento, alucinação e "endoidamento". Confesso que não sei se cheguei neste ponto, mas posso dizer que senti angústia, tristeza e, por alguns minutos, horas, dias e semanas, perdi o sentido da minha vida. Que loucura isso. Mas sim, pode acontecer com qualquer pessoa.
Comigo aconteceu por um trauma pessoal. Infelizmente eu me deparei com uma situação na minha vida, que, confesso, que até agora não sei como eu me deixei envolver. Por esta situação, eu coloquei em risco a minha família, a minha felicidade, a minha sanidade e a minha reputação.
Ainda estou me recuperando deste momento angustiante, mas gostaria de deixar registrado uma das principais lições que aprendi até agora: Se precisa: Surte! Surtar também é uma competência.
Surtar é expor os sentimentos, os pensamentos, as ideias e as fraquezas. É dizer tudo que está no coração e na cabeça, sem filtro, sem meias palavras e sem lógica. É não precisar raciocinar e muito menos se explicar. É poder exercer a sua habilidade de ser humano, de reconhecer seus erros e as suas vulnerabilidades.
Surtar pode ser por um trauma pessoal ou profissional. Ocasionado por você ou por alguém. Mas o mais importante, é saber que, independente do motivo do surto, ele esteja ocorrendo em um ambiente psicologicamente seguro. Local onde não precise ter medo de punições e represálias. E ter pessoas ao seu redor que saibam escutar, aconselhar e orientar. Talvez não falem o que você queira ouvir, mas dizem o que você precisa escutar.
Como o surto não tem hora e nem lugar, eu venho aqui deixar o meu pedido de que todos nós somos responsáveis em criar ambientes psicologicamente seguros, para que quando uma pessoa precise surtar, ele tenha todos os recursos necessários para superar essas fase tão angustiante. E ainda, poder sair dela muito mais forte do que entrou, porque quando isso acontece, tenha certeza, teremos um ser humano muito mais capaz de contribuir com a evolução da sociedade.
Então se você faz parte de um ambiente de trabalho, seja ele corporativo ou trabalho informal, recomendo que observe se:
Neste local, as pessoas perguntam, genuinamente, uma para outra, se elas estão bem?
Neste local, as pessoas notam quando uma pessoa demonstra um comportamento diferente, um olhar de tristeza ou uma fala com pouca vibração?
Neste local, quando há uma queda de performance ou um trabalho com menos qualidade a primeira pergunta é: você precisa de ajuda?
Neste local, falar de saúde mental já não é mais um tabu?
Se para algumas dessas perguntas, a resposta foi "Não" ou "Não Sei", Atenção! Você precisa repensar qual tem sido o seu papel neste ambiente, e o que você tem feito para influenciar um ambiente psicologicamente seguro.
Talvez você entenda que este seja um papel da área de Recursos Humanos ou da Liderança (e também é), e você está certo se você estiver pensando na criação de políticas e programas. Mas não se limite a isso. Por que políticas e programas só funcionam, quando as pessoas exercem as ações no dia-a-dia, e é este compromisso que eu convido a todos a exercerem.
Já no ambiente pessoal, seja com a família, parentes e amigos, também recomendo que observe se:
Neste local, as pessoas interagem, genuinamente, querendo saber como foi o seu dia?
Neste local, as pessoas demonstram carinho, amor, atenção e afeto?
Neste local, quando você está triste e angustiado, você se sente a vontade para se abrir, se expor e pedir ajudar?
Neste local, falar de saúde mental já não é mais um tabu?
Aqui também deixo a minha reflexão. Se algumas dessas respostas foi "Não" ou "Não Sei", Atenção! Você precisa dar o primeiro passo. Proporcione para as pessoas ao seu redor a oportunidade de surtarem com segurança. E busque relações com pessoas que possibilitem você ter os seus surtos.
É preciso exercer esta competência de surtar, pois são nestes momentos que você irá descobrir quais são as suas reais vulnerabilidades, e, a partir delas, você, se necessário com ajuda, poderá construir planos sólidos para controlar estes momentos caóticos, e, consequentemente, fortalecer competências que farão você uma pessoa ainda melhor.
Ah, sobre o meu surto. Eu passo bem. Já estou na fase da construção do plano para ser uma pessoa ainda melhor. E tem sido muito mais fácil a construção deste plano, porque seja na minha vida profissional ou na minha vida pessoal, em especial ao lado do meu esposo e minha filha, eu pude, para todas as perguntas, responder "Sim".
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Kátia Regina
Executiva de RH | Apaixonada por gente, histórias e experiências | Escritora de artigos e rumo a publicação de livro(s)
Originalmente publicado em www.katiaregina.com
Achei o tema importante e me remeteu a situação de lidar com as armaduras individuais, aceitas de forma consciente por nós como forma de inclusão ou proteção, levando a uma desconexão interior,
Acho esse tema bem complicado. Como gestor ou ser humano. Meus surtos (que são importantes) tenho com a ajuda da terapia. Infelizmente no profissional as vezes há um rótul pós fato que pode marcar a carreira na empresa. Uma conversa verdadeira, de uma posição vulnerável com a família, é bem eficiente.