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Foto do escritorKatia Regina

Só se for um relacionamento sério

Quando fiquei paraplégica, uma das minhas maiores angústias, foi imaginar que tudo agora seria necessário com a ajuda de alguém. Chorei muito por isso, pois eu não só tinha perdido o movimento das minhas pernas, chorei por terem tirado a minha autonomia, a minha independência e a minha dignidade.


Foi um choro que classifico justo. Mas passou. Por que também entendi que a paraplegia me ensinaria a reconhecer o que é ter um relacionamento sério.


E eu te explico como.


Neste exato momento, estou escrevendo este artigo do aeroporto de Zurique, Suíça. Uma viagem de uma semana que tive a oportunidade em realizar graças ao meu trabalho. Só o fato de ser uma viagem internacional, já é um “baita” de um privilégio, mas a grandeza não está neste fato, e sim, no ato de ter feito esta viagem SOZINHA, sem nenhuma pessoa como minha acompanhante, ou minha cuidadora, ou melhor, a minha “responsável”.


Pois foi exatamente isso que me perguntou a atendente da empresa aérea quando cheguei no balcão do check-in: “A senhora viaja com algum responsável?” Eu respondi: “Eu acho que já tenho idade para viajar sozinha. Não parece, mas já completei meus 18 anos”.


Provavelmente, apenas uma outra pessoa cadeirante irá entender o quão complexo é fazer uma viagem sozinha. É chegar no aeroporto e ter que se virar para levar a sua mala até o check-in, é o esforço para entrar em algum carro, é a paciência para esperar uma assistência, é chegar no hotel e não abrir a porta automática porque o sensor é muito alto, é não ser vista porque o balcão te esconde, é a luz do banheiro que não ascende porque o sensor não te reconhece, é a todo momento se deparar com degraus e buracos nas ruas, é ter medo de se transferir sozinha, cair e estar sozinha no banheiro, é rezar para não escorregar no vaso sanitário, é ter uma disenteria e não conseguir se limpar ou qualquer outro imprevisto e não conseguir se cuidar.


Tudo isso gera muito medo, ansiedade, bloqueio e todas as justificativas para não se arriscar. Mas quando você percebe que se sair do raso e mergulhar em relacionamentos profundos você obtém uma força e coragem que, sozinho ou sozinha, seria impossível conseguir, você começa a alcançar resultados incríveis.


Relacionamentos profundos, ou mais conhecidos como relacionamentos sérios, não são só amizades de longo prazo, intimidades amorosas, relações de alta confiança ou coisas assim. Relacionamento sério também é querer ajudar alguém para ter a certeza que o outro ficará bem, é se preocupar com o bem-estar de uma pessoa sem ter nada para ganhar em troca, é fazer o bem a outra pessoa em uma intensidade que talvez ninguém faça por você.


No ambiente de trabalho muitas vezes ignoramos a chance de se relacionar seriamente com alguém, porque acreditamos ser um ambiente profissional, superficial e efêmero. Mas foi justamente neste ambiente que eu entendi que se eu não me aprofundasse nessas relações eu continuaria a me afogar no raso.


E foi por ter reconhecido estes relacionamentos que foi possível eu obter esta conquista de fazer a viagem sozinha. Pois desde do momento que precisei inserir a sonda para ter conforto para viajar até chegar segura em minha casa, eu fui cercada por pessoas que se relacionaram seriamente comigo e, sem precisar pedir, estavam de prontidão para me ajudar.


E foi pensando nessa experiência que eu te pergunto:

Qual foi a última vez que você de fato foi um relacionamento sério para alguém?

Eu sei que o fato de estar em uma cadeira de rodas, e saberem como cheguei até ela são elementos que ativam o “modo” empático e solidário de muitas pessoas, mas eu acredito, mais ainda, que essa condição traz, para quem quer SER um relacionamento sério, a reflexão que essa atitude pode ser ativada a qualquer momento que se entende que ter alguém para cuidar, para apoiar, para estender a mão, para ajudar e para acolher te faz ter um relacionamento sério que engrandece a alma.


Ah, e para estar em um relacionamento sério você nem precisar dormir com a pessoa, frequentar a casa dela ou serem super amigos, essa relação pode acontecer quando você percebe que alguém, as vezes (e isso acontece sempre) precisa de ajuda para elaborar um material para uma reunião, ou apoiar a responder um e-mail mais complexo, a ter uma nova ideia para se destacar no trabalho, a melhorar a relação com algum familiar, amigo ou chefe, ou simplesmente ter um melhor dia.


Relacionamento sério é você sair da sua superficialidade de ser Ser Alguém e passar para profundidade de Ser Humano.



Gostou deste texto?


Então, me conta o que achou nos comentários e compartilhe para ajudar a espalhar essa ideia.




Kátia Regina

Mulher | Mãe | Vitoriosa | Executiva de RH | Apaixonada por gente, histórias e experiências | Escritora de artigos e rumo a publicação de livro(s)


Originalmente publicado em www.katiaregina.com





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2 Comments


As suas palavras me fizeram refletir o quão importante é não ter receio de viver relacionamentos sérios durante a vida, em diversas áreas. A insegurança gera um bloqueio e o medo de confiar, todavia viver já é o maior dos riscos.

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Gratificante e estimulante ler este texto.

O medo muitas vezes paralisa tanto quem precisa de algum apoio quanto quem está ao lado e congela sem saber de que forma apoiar.

Pequenos gestos, grandes impactos.

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